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  • Foto do escritorSilvio Bianchi

Seu endividamento não depende da taxa de juros!

Atualizado: 23 de ago.

Após cada variação da taxa SELIC ouvimos comentários como: “a rentabilidade da poupança será afetada...”, “as taxas de juros nos financiamentos sofrerão uma variação...”, “a rentabilidade dos investimentos atrelados à SELIC...”. Tudo isso porque é a taxa de juros básica da economia.


Se a taxa SELIC subir, os juros dos empréstimos se elevam; se ela descer, os juros dos empréstimos diminuem. Assim, a cada variação da taxa SELIC se diz que o endividamento das pessoas se eleva ou diminui.


O que eu quero conversar com você hoje não é sobre os impactos macroeconômicos e microeconômicos da variação na taxa de juros (parece título de tese de doutorado, certo?), mas por que suas condutas impactam muito mais no seu endividamento do que a taxa de juros.




O crédito, um sedativo tarja preta!

Tudo começa com um desejo, uma vontade, que muitas vezes rotulamos como “necessidade”.


Quando isso acontece, o cérebro ativa a segregação de pequenas doses de dopamina (o neurotransmissor do prazer). Essas pequenas doses estão destinadas a motivar para entrar em ação (se agora sente isso, imagine o que sentirá na hora de satisfazer essa necessidade!).


Procuramos aquilo que precisamos, o achamos e ... chega a hora de pagar! Esse é o momento em que o vendedor fala as palavras mágicas: “vai parcelar? Pode pagar em até X vezes sem juros!”.


Ao utilizar o crédito (cartão de crédito, carteira de boletos, financiamento), acontecem várias coisas: - Separa-se o momento do consumo e o do pagamento, pois você consome/compra num momento e pagará depois.

- Aumenta o prazer da compra, porque não precisa pagar nesse momento.

- Não precisa pensar no que poderia ter que deixar de pagar para fazer essa compra, porque, para seu cérebro, não está pagando.

- Ao “pagar depois”, seu horizonte financeiro fica mais difuso, porque, para o cérebro, é uma espécie de “buraco negro”.

- Subestimamos ou esquecemos quanto gastamos. Ao controlar a fatura do cartão de crédito, quantas vezes "descobriu" uma despesa que não lembrava ter feito? - A compra se decide mais rápido. - Não se sente dor ao pagar!


Este último ponto: “sentir dor ao pagar” é muito importante de ser compreendido.


Pesquisas mostram que cada vez que fazemos um pagamento em espécie (abrimos mão de notas ou moedas), ativa-se no nosso cérebro a mesma área que quando sentimos uma dor física. Isso se chama sentir a dor do pagamento. Porém, quando utilizamos o cartão de crédito, o crediário ou o cartão de débito (não pagamos em espécie), essa área no cérebro não se ativa porque não estamos abrindo mão do nosso dinheiro (não sentimos dor ao pagar!).


Por isso dizemos que o crédito funciona como sedativo para a “dor do pagamento”.

Porém, esse fato também precisa servir como advertência: o uso excessivo do sedativo (crédito) pode criar dependência e a consequência dessa dependência se chama endividamento.


Comportamento... Consumo... Crédito... Endividamento

Agora que compreendemos por que o crédito é um sedativo tarja preta, vamos pensar juntos sobre o que pesa mais no endividamento: a taxa de juros ou as condutas.


Sem dúvidas, a taxa de juros influencia no total de uma dívida. Os juros são o custo que pagamos por utilizar dinheiro emprestado (dinheiro que não é nosso). É algo bem similar a pagar o aluguel de um imóvel ou carro. Enquanto uso o imóvel ou o carro, que não me pertence, pago um determinado valor (locação).


Advertência 1: cada vez que utiliza o crédito, está pagando juros! Ainda que digam “taxa 0%”, os juros estão embutidos no preço!


Advertência 2: ao usar o crédito, está utilizando dinheiro que não é seu e que precisa devolver. O preço por usar dinheiro que não é seu é a taxa de juros e ... não é barata!


Advertência 3: na maioria dos casos (por não dizer todas) os juros de um empréstimo se calculam utilizando a fórmula de juros compostos ("juros sobre juros"). É a mais cara!


Advertência 4: ainda que possa negociar a taxa de juros (às vezes, é possível), o consumidor não tem controle sobre a taxa de juros que os bancos/financeiras determinam como “taxa mínima”. Portanto, repito, por usar dinheiro que não é seu sempre irá pagar caro!


Resumo rápido:

  • consume "porque necessito”,

  • usa o cartão de crédito porque não tem dinheiro agora (mas acredita que terá no futuro),

  • usa o cartão de crédito porque "resulta mais simples que pagar com dinheiro" ou porque não sente dor ao pagar (por causa do anestésico).


Consequência: o montante das contas a pagar aumenta!


Agora chega o momento de analisar o comportamento, a forma em que reagimos frente a um determinado estímulo interno ou externo. Apesar de que dificilmente possamos ter completo controle sobre nossos comportamentos, podemos influenciá-los/controlá-los mais do que a taxa de juros.


Chegamos aqui ao ponto que faz a diferença quando falamos sobre endividamento e culpamos à taxa de juros (que não controlamos): podemos controlar nossas decisões de consumo e evitar ou reduzir a utilização do crédito!


Como fazer para melhorar o controle?

Eduque-se financeiramente. Informe-se sobre as ferramentas financeiras de uso mais comum (crédito, crediário, cartão de crédito, Pix), como utilizá-las, das suas vantagens e dos seus riscos. Assim como lê o manual de uso do seu celular, procure informar-se sobre como utilizar estas ferramentas corretamente.


Organize seu orçamento. Saiba quanto recebe líquido, quais são suas despesas básicas (as necessárias para sobreviver), suas despesas supérfluas (aquelas menos importantes que as básicas) e quais são as parcelas a pagar (no mês atual e nos meses seguintes).


Lembre-se que ao comprar parcelado, além de pagar juros, também compromete rendimentos futuros. Cada vez que compra parcelado está comprometendo rendimentos que ainda não recebeu (ao comprar un bem ou serviço por R$1.000,00 em 4x, está comprometendo R$25,00 dos próximos 4 salários). Antes de decidir uma nova parcela, saiba quanto já comprometeu dos seus futuros rendimentos e, assim, evitará ter que pagar mais do que receberá.


Planeje suas compras. Organizando seu orçamento saberá quanto fica disponível depois de pagar suas despesas básicas, as parcelas de compras anteriores e as despesas supérfluas. Para agregar uma nova despesa/parcela e poder manter um orçamento saudável (gastando menos do que recebe), deverá verificar que esse novo valor cabe dentro do orçamento atual e dos futuros.


Pergunte-se: quero ou preciso disso? Muitas vezes nossas compras são definidas por pressões sociais, familiares ou pela propaganda agressiva. Antes de decidir uma nova compra, pare, respire fundo e se questione sobre quais os benefícios dessa aquisição. Uma dica: deixe passar 24 horas e se questione novamente!


Tenha objetivos. Objetivos de curto, médio e longo prazo funcionam como uma bússola, pois indicam o caminho que você decidiu seguir. Portanto, o que é realmente importante para você? Quanto isso custa? Quando vai acontecer? Essas respostas facilitarão demais o “NÃO” para aquelas compras menos importantes.


Se for comprar parcelado ou contratar um financiamento, a parcela deve caber no orçamento. Como já falamos, lembre-se que parcelar significa comprometer rendas futuras e o futuro é incerto. Portanto, não adianta sair comprando porque vai dividir em muitas parcelas “pequenas” se essas parcelas não caberão no orçamento dos restantes meses. A compra virará pesadelo e o endividamento baterá na porta!


Crie uma reserva de emergência. A reserva de emergência protege seus objetivos assim como seu orçamento. Dado que o futuro é incerto, ofereça-se a possibilidade de poder enfrentar uma eventualidade sem se endividar para resolvê-la. Também, em caso de uma diminuição na renda, poderá honrar as parcelas já contratadas.


Acredito que a mensagem foi transmitida. Suas condutas pesam mais no endividamento do que a taxa de juros! Portanto, não adianta responsabilizar aos juros altos pelo seu endividamento. Quem controla a decisão de contratar uma nova dívida é você!


Sem os devidos cuidados, o crédito vira dependência e pesadelo!


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Silvio Bianchi é Contador Público, Pós-graduado em Educação e Coaching Financeiro, Master Coach, Coach Financeiro, Treinador e Palestrante. Cofundador de BEM Financeiro – Desenvolvimento em Finanças, responsável pelo escritório em São José dos Campos.

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